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VELEJADORES OCEÂNICOS

  • Foto do escritor: Revista de Turismo PB
    Revista de Turismo PB
  • 6 de jun. de 2023
  • 3 min de leitura
Quando em digressão e recreio, costumo conversar com velejadores de outros países na Praia de Jacaré, em Cabedelo. Interesso-me pelas suas histórias. São narrativas repletas de situações pitorescas e também de perigos. Gosto de saber das impressões de viagem, dos locais que visitaram, dos percalços, das belezas naturais, do modo de vida e outras coisas.

Na tentativa de ajudá-los fiz boas amizades com alguns deles. Sei, por experiência própria, o quanto é difícil estar em um país distante, sem falar o idioma, pouco saber dos usos e costumes, com ninguém para dar uma mão. Esses navegadores, em regra viajam em parelha, marido e mulher. Eles amam a liberdade e a natureza. Querem curtir a vida. Por isso buscam plagas ensolaradas. Por duas vezes tive o privilégio de navegar com eles.

Certa vez, fizemos de veleiro com um casal americano o trajeto João Pessoa/Natal. Ele, engenheiro eletrônico, ela, farmacêutica, estavam realizando a circunavegação do Atlântico e aportaram por aqui. Haviam saído da Flórida. Empurrados pelos ventos, passaram pelas Bermudas e foram para a Ilha da Madeira, um dos mais belos recantos do Atlântico, segundo disseram; depois, seguiram para os Açores, para as Ilhas Canárias, Cabo Verde, passaram pela Ilha de Ascensão, pelos Rochedos de São Pedro e São Paulo, Fernando de Noronha, e, por fim, aportaram em Jacaré, em Cabedelo, PB, de onde seguiram para o Caribe e, depois, para casa.

De outra sorte, fiquei amigo de um casal da Naníbia. Impressionei-me pelo fato de o casal ter construído seu próprio veleiro, o “Carte Blanche”, num galpão, com o casco de chapas de ferro, usando uma máquina de soldar e um martelo, conforme álbum de fotos com o passo a passo que me mostraram. Fizemos um passeio no veleiro “Carte Blanche” até Baia da Traição. Passamos um final de semana, explorando, em bote inflável motorizado, as reentrâncias estupendas da Barra do Rio Mamanguape.

A praia de Jacaré, em Cabedelo, figura com grande destaque no catálogo da Associação Mundial de Velejadores. Consta que é o local ideal para se travar o primeiro contado com o Brasil e para manutenção da embarcação. O catálogo detalha o local com precisão. Traz dicas de acesso às repartições públicas e variadas informações. Espantei-me quando vi no catálogo a sugestão de laser que desconhecia: a circunavegação da Ilha do Stuart, no estuário do Rio Paraíba.

Abordo este tema para alertar as nossas autoridades sobre a necessidade de se criar um visto turístico especial para essa classe. Por conta de uma burocracia insensata os velejadores oceânicos têm sido martirizados. Eles são tratados como um turista qualquer, que chega de avião ou de carro. Têm que se submeter aos exíguos prazos de permanência em território nacional incompatíveis com a natureza de sua viagem. O visto de permanência no Brasil é de 90 dias, com direito a uma renovação. Convenhamos que é muito pouco para quem se dispõe a viajar ao sabor do vento em um litoral de mais de 8.000 quilômetros, como o do Brasil.

Os velejadores oceânicos deveriam ser considerados cidadãos mundiais, com direito de permanência de, pelo menos, dois anos. Afinal, eles têm renda própria. Não disputam empregos dos nacionais.

O espírito desses velejadores foi descrito por Arthur Ransome nestes termos: “as casas não são mais que barcos mal construídos, tão solidamente plantados no chão que nem sequer se pode pensar em movê-los. Não há dúvidas que são coisas inferiores, que pertencem mais ao reino vegetal do que ao animal, enraizada e estáticas, impassíveis de transição. A decisão de construir uma casa vem daquele desejo mórbido de uma pessoa que se contenta em ter, a partir daí, um só ancoradouro. A decisão de construir um barco, porém, é aquele desejo da juventude que se recusa de aceitar a ideia de um lugar de repouso final”.






Valério Bronzeado

Jornalista - Febtur - Paraíba

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