Retomar o que não planejou para reconstruir
Tivemos uma pandemia inteira para planejar, reformar, para voltar melhores do que éramos. Mas não fizemos nenhuma lição que agora, quase dois anos depois, pudéssemos tirar notar 10. Durante esse período de restrição pandêmica, predominou a preocupação de sobrevivência, do não fechamento dos negócios estabelecidos. O tempo que sobrava era utilizado para xingar os governantes por suas aplicações das restrições que tentavam impedir o avanço da doença. Todos desejavam e até usavam o chavão “quando tudo isso acabar”, mas em nenhum momento pensaram: vou planejar, vou me preparar para quando tudo isso acabar. Estamos vendo e sentindo que ainda não acabou, mas a sensação, desejo e comportamento é de que acabou e já vivemos “o novo normal”, outro chavão criado e largamente utilizado.
Tudo bem. Digamos que esse dito “novo normal” chegou... e daí? O que encontrou de novidade no mercado ou na mentalidade do empresário? Sempre disse que o turismo é uma atividade muito sensível, e a qualquer ação positiva que seja feita, a resposta é imediata. Enquanto se falava que o turismo seria o último segmento da economia a voltar ao normal, eu guardei a convicção que teríamos bons resultados. Pois bem, está aí para provar. A população quer viajar; os aviões, nestes recentes feriados prolongados, mesmo com preços do bilhete subindo 56% em um semestre, estão lotados; os índices de ocupação dos hotéis estão acima do mesmo período de anos anteriores. O prenúncio é de que o verão terá índices acima da média mesmo com a certeza de não ter Réveillon e a dúvida sobre haver o Carnaval.
Mas, com tudo isso, o que de novidade será oferecido aos turistas? O que foi planejado para surpreender os visitantes que vão chegar nas cidades ávidos para consumirem, e, de preferência, novidades? Digo sempre que no Brasil se consome turismo “in natura”, ou seja, o que a natureza nos presenteou e que o homem insiste em não ter o menor cuidado em preservar. As belezas naturais temos de graça, mas o homem não tem capacidade de planejar, adicionar criatividade para oferecer aos visitantes, pois ele está ocupado em reclamar dos governantes, como faz o velho de cabeça branca que passa suas tardes sentado no Largo de Santana, bebendo cerveja, vendo as ondas banharem as pedras da Casa de Iemanjá e olhando para a África...
O que está acontecendo? Nada, e pelo que vemos não vai haver nada mesmo. Não se sabe de nada, pois tudo depende dos índices de vacinação da população com segunda e terceira doses e, por consequência, rezar para que a dita 4ª onda, a variante Ômicron, descoberta na África do Sul, já instalada em alguns países da Europa, não atravesse o Atlântico com a mesma força da anterior.
Conheci recentemente, durante a realização do ENCOMTUR-Pará, um grupo de jovens blogueiras, originárias de diversos estados do Brasil que se chama “Elas pelo Turismo”. Nem todas jornalistas, mas todas com muita sensibilidade e visão jornalística sobre a nova maneira de vender e consumir turismo. Cada uma fala sobre um determinado segmento da atividade naquele destino visitado. É um verdadeiro Raio X, que mostra as deficiências e eficiências que o turista vai vivenciar durante sua estada, o que determinará seu retorno ou não. Um exemplo: quantos e onde estão situados os restaurantes vegetarianos da cidade, para quem é adepto desse tipo de alimentação? Quem gosta de praticar campismo, onde estão situados os Campings ou áreas adequadas? São esses pequenos detalhes que revelam se existe ou não planejamento turístico no destino.
O certo é que a população, premiada por diversos feriados esticados, pode sair de casa com mais segurança, para gastar algum dinheiro guardado durante o período crítico da pandemia, principalmente os funcionários públicos e aposentados que não sofreram perdas salariais, enquanto ficavam em casa se resguardando da Covid-19, apesar dos preços exorbitantes das passagens aéreas domésticas e o preço do dólar para as viagens internacionais.
Gorgonio Loureiro
Presidente da Federação Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Turismo (Febtur-Nacional)
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