Nos idos do século XVII foi fundada pelos franciscanos um aldeiamento de índios, distante duas léguas do Rio Capibaribe, e o local foi denominado de Miritiba, palavra da língua tupi, que significa juncal (Mbiri-tyba). Nesse lugarejo nasceu o índio Poty, o famoso Dom Felipe Camarão, que tornaria celebre na restauração pernambucana. Nas terras da primitiva aldeia indígena foi construído um engenho que ficou conhecido pelo nome de Engenho Aldeia.
No decorrer do século XVIII, diversos engenhos foram edificados nos arredores da aldeia, dentre eles: o Engenho Bom Sucesso, erguido à margem direita do Rio Capibaribe, e ao lado esquerdo foi erguida pelo português Joaquim Domingos Teles, a capela Santa Tereza de Jesus. Com a construção de um engenho de açúcar em 1627 que foi denominado de Engenho Aldeia, e com o crescimento do povoado, se fundou Paud’alho, e posteriormente Paudalho, por função de uma árvore que exalta odor semelhante ao alho, árvore secular a margem do Rio Capibaribe.
A MIRABOLANTE FALTA DE INFRAESTRUTURA
A concorrida Romaria de São Severino dos Ramos é reconhecida como patrimônio cultural, religioso imaterial, e foi o prefeito Marcelo Gouveia que sancionou o projeto de Lei Municipal, e segundo o Chefe do Executivo de Paudalho, o objetivo é valorizar a cultura e a religiosidade. Sem dúvidas, a Romaria de São Severino dos Ramos é uma importante rota de fé de milhares de romeiros do Nordeste e alhures.
Na conjuntura atual, a Romaria de São Severino dos Ramos - que fortalece a econômica local, faz parte da vida de milhares de paudalhenses, pernambucanos, brasileiros e de turistas estrangeiros. De acordo a Fundação Joaquim Nabuco, com sede em Recife, o Santuário de São Severino dos Ramos é hoje o maior centro de romaria de Pernambuco e o terceiro do Brasil.
Para melhor conhecer a história da Romaria de São Severino dos Ramos e contemplar a garra dos fieis romeiros e romeiras (que são os turistas religiosos), nos dias 8 e 9 deste mês estive “in loco” no município de Paudalho. Constatei que lamentavelmente as condições de infraestrutura que são proporcionadas aos visitantes e nativos, são literalmente inexistentes. Falta muito para que o destino turístico religioso de Paudalho com foco em São Severino dos Ramos, seja uma positiva realidade conjuntural. A indústria turística é um fator sério e responsável; o Turismo é um projeto de planejamento justo e perfeito, e depois de aprovado, seja feita a sua posterior execução. O resto é papo, fantasias e malabarismos.
SEM ORIENTAÇÕES PARA OS TURISTAS
Os devotados e aguerridos turistas religiosos (e curiosos) oriundos de várias localidades do nosso Nordeste e de outras origens, reclamam de tudo que é contra o alavancamento de um turismo sério, bem plenejado, moderno e confortável, o que atualmente é inexistente em Paudalho, e que não proporciona bem estar aos visitantes. Por exemplo: a Igreja precisa de uma recauchutagem (pintura interna e externa); no dia 9 (domingo) até as 10 horas da manhã, a igreja permanecia fechada (a Casa de Deus não é para estar aberta), e os romeiros querendo adentrar para orar, pagar suas promessas, ver as belezas internas, e depois turistar por outros locais; não existe um box da Secretaria de Cultura e Turismo de Paudalho com seus funcionários preparados para prestar informações aos turistas, bem como operar a distribuição de folhetos com informações sobre o município e suas as rotas turísticas; não existe guias turísticos; os estacionamentos são deprimentes, faltam placas para orientação aos visitantes, e aos motoristas; falta policiamento (e guardas municipais); as barracas, bares e restaurantes estão todos superados e precisam de literal reforma e de melhor apresentação; quando chove, os romeiros ficam impedidos de se deslocarem devido as águas que provocam imenso lamaçal; precisa de saneamento básico; as redondezas apresentam aspectos de favelas abandonadas. Para fortalecer e melhorar o turismo daquela localidade urgem as devidas providências dos Poderes Executivo, Legislativo e dos setores empresariais, para proporcionar com unicidade, e sem as delongas, às necessárias melhoras, caso contrário PAUDALHO VAI CONTINUAR NA CONTRAMÃO DO TURISMO.
FÉ E DEVOÇÃO EM SÃO SEVERINO DOS RAMOS
A fé em São Severino dos Ramos é uma prática católica. A estátua (foto), em tamanho natural, com origem incerta, representa São Severino de Nórica, deitado e vestido em trajes de soldado romano; encontra-se na Igreja de Nossa Senhora da Luz, em Paudalho, Pernambuco.
Os primeiros relatos da realização dos prodígios por intermédio do santo são do século XIX, quando se iniciou a história de que a estátua seria o próprio cadáver incorrupto de São Severino. A notícia, na época, se espalhou entre os habitantes das regiões e diversos fiéis de vários lugares brasileiros passaram a frequentar a Igreja de Nossa Senhora da Luz, no Engenho Ramos (desativado na década de 20) onde a estátua se encontrava.
Relatos apontam que a fé foi fundamentada na história de São Severino Mártir, soldado romano dos primeiros séculos do cristianismo. De acordo com a tradição, ele foi um soldado romano martirizado no século II ou III. Era um cidadão romano rico que como ato de caridade, doou seus bens para os pobres e iniciou uma vida reclusa, de renúncias no Egito e na Síria. Ele ainda realizou importantes trabalhos missionários em regiões da Áustria e Iugoslávia, pregando em penitenciárias. Outro grande feito de São Severino foi libertar escravos do domínio dos bárbaros e segundo relatos, os milagres ocorreram através de suas orações.
DESTINO DA ROMARIA E DA FÉ CATÓLICA
Paudalho é um grande centro da romaria e da fé católica do Nordeste e além das fronteiras pernambucanas. O acesso é facilitado por situar-se à margem da rodovia BR-408, que liga o município à cidade do Recife, a Veneza Brasileira, a hospitaleira capital pernambucana.
Os romeiros visitam Paudalho o ano inteiro e tem como foco principal o Engenho Ramos, onde está a capela de Nossa Senhora da Luz, para cumprir as promessas à São Severino dos Ramos. Anexa à capela fica à sala dos ex-votos, onde os fiéis depositam peças diversas, em agradecimento as graças alcançadas. Nesse “point” turístico, a infraestrutura receptiva deixa muito a desejar.
Outro local de interesse dos turistas e dos romeiros são as ruínas do Mosteiro de São Francisco, onde os religiosos se refugiaram quando da ocupação holandesa em Pernambuco. Diversos prédios de interesse histórico são abertos à visitação: como antigos engenhos; a Ponte de Itaíba, do século XIX, inaugurada pelo Imperador Dom Pedro II; o Bosque de Pau-Brasil; a fábrica de beneficiamento do sal, instalada em prédio do século XVIII; a estação ferroviária (1891); os antigos casarões do início deste século, com detalhes ou fachada em azulejos portugueses; a casa de farinha do Engenho Açougue Velho; o açude zumbi. A festa de São Sebastião é a mais movimentada festa popular religiosa, porém o padroeiro da Cidade é o Divino Espírito Santo, com sua matriz localizada próxima à Prefeitura Municipal. Durante o Carnaval, a cidade conta com grupos de maracatu rural, bumba-meu-boi, urso e caboclinhos. (Fonte: Fotos/LCM/ Google).
Liszt Madruga
Jornalista e Presidente da ABRAJET - RN
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