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Foto do escritorRevista de Turismo PB

Para além do Parque do Povo

Não fui um assíduo frequentador dos ambientes de festa junina em Campina Grande esse ano. Isso pode até parecer uma “blasfêmia” para alguns, em contraste com tempos idos em que durante o dia me divertia no Sítio São João, Vila do Artesão, Vale do Jatobá, Villa Forró; visitava umas duas ou três casas de amigos, sempre com uma “pareia” de roupa no banco do carro, isso durante todo o mês. À noite, a apoteose era o encontro com amigos no Parque do Povo. Quando a música no palco principal não agradava tanto, ia curtir as palhoças com trios de forró ou mesmo o famoso xerém na Pirâmide que de forródromo, hoje é espaço para apresentações de grupos folclóricos e quadrilhas. Saudades de Marral e o seu famoso “forró da lombinha”...

Véspera de Santo Antônio, São João e São Pedro, não abria mão da fogueira, dos fogos, todos proibidos nos dias de hoje (só aqui). Me espantei quando vi na tv uma disputa de maior fogueira no interior de São Paulo e uma delas tinha 57m, fosse por aqui alguns órgãos de controle enfartariam, pensei. Assar milho, carne, ir à calçada de vizinhos, eita São João danado de bom, como magistralmente cantaram Gonzagão e Elba Ramalho. Momento Junino e o forró em Galante indo de trem nos fins de semana, contemplando a Pedra de Santo Antônio no alto da Serra, aquele cheiro de mato vindo das janelas atraídos pelo chorar da sanfona. É como disse Drummond de Andrade: amar o perdido/ deixa confundido/ este coração. São João dos meus sonhos nas teias de minhas memórias juninas, tradições que vão se modificando, o que me deixa sempre ficar atento.

Restou-me, então, observar o entorno, o movimento dos viventes, da cidade como um todo nesse ano em que é comemorado quarenta anos d’O Maior São João do Mundo. Um motorista de aplicativo vibrou com o movimento, levando-o a desgastantes dezoito horas de serviço por dia e me dizendo isso com largo sorriso, enquanto outro não vê a hora da festança acabar depois de ter prejuízo com grandes engarrafamentos no centro da urbe que oneraram bastante, além da “invasão” de trabalhadores de outros municípios vizinhos. Aliás, nesse quesito, não é de hoje que a cidade passa a ser a Meca de ambulantes vendendo qualquer coisa, artistas de rua, músicos, até de larápios. Faz parte.

Da tv, a repercussão nacional em miúdas matérias no rico horário nobre. As ondas do rádio me traziam a especulação e movimentação de atores políticos que dançam entre apoios e costura de alianças. A internet, eivada das ácidas opiniões ofertadas por muita gente que, desejando mais cliques, davam ares sensacionalistas a cada momento da festa.

O que dizer do encurtamento do espetáculo protagonizado por nosso forrozeiro Flávio José em favor de um cantor que nem sei se é sertanejo ou realmente o que canta. Essa mesma figura proibiu a transmissão virtual de seu show em Caruaru e teve como resposta em tom de revolta do apresentador Wagnner Salles: “é muito simbólico o que vou fazer agora aqui, certo? Com licença (momento em que fecha a janela do estúdio defronte ao palco), se não tem show pra vocês (internautas), não tem show pra gente não. E aí, já que o cantor e a sua produção não autorizam o show, a partir de agora, vocês vão conferir junto com a gente, se a gente não pode falar do São João de Caruaru, vamos curtir o São João de Campina Grande”, passando a gerar imagens da cidade paraibana. Por falar em transmissão, todas as noites uma plataforma na internet fazia cobertura profissional no que, aliás, ocorreu com a maioria das grandes festas do Nordeste. Aproveitei para ver várias delas, podendo ser acessadas qualquer dia e hora. Vi alguns deles embalados em lençóis, enquanto chovia torrencialmente lá fora e a gripezinha que foi-não-foi aparecia. Acredito que nenhum dos últimos anos tenha chovido tanto quase que ininterruptamente, “Campina sendo Campina” era a frase bem difundida nas redes sociais.

Observei a repercussão do aumento na oferta de voos diretos, a comemoração de barraqueiros da festa fazendo com que o presidente do sindicato louvasse que ao invés de trinta deveriam ser sessenta dias tamanho o sucesso e o lucro, inclusive de muitos (principalmente os pequenos) que vendem churrasquinhos, milho e pamonha terem nesse período a renda que os sustentam em boa parte do ano, um verdadeiro porto seguro. O enfeite de ruas e praças aumentou, não o ideal, mas cresceu sim e conversando com populares de alguns bairros, notei um certo desestímulo e decepção com a proibição das fogueiras.

A cidade pulsa no batuque do zabumba, reconfigurando tradições, ao tempo em que a tentativa de transfigurar o que é genuíno cresce vorazmente em uma trincheira cada vez maior. Então, como bem colocou Fernando Moura em sua coluna ‘Bandeirolas’ no último sábado, nesse prestigioso jornal A União: “Que tenha início à reação”.






Thomas Bruno Oliveira

Historiador e Jornalista - 3372-PB

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