TEM UNS VINTE e três anos que estive nas terras de Pitimbu-PB, no ponto extremo do litoral sul da Parahyba. A época, era um garoto sem tantas pretensões históricas e pouco aproveitei da cidade. Estava na residência de minha prima Cláudia, filha de Nevinha Oliveira, uma tia, baluarte familiar que já mencionei algumas vezes nessa coluna. A casa tinha piscina, quadra e todos os apetrechos suficientes para um garoto de mais ou menos quinze anos acompanhado de primos e primas com idade parecida onde os namoricos eram a tônica do momento. Anos depois, ao estar no município do Conde, tive a informação da importância histórica da cidade de Pitimbu no que se refere a colonização de nossas terras, inclusive que a região era constantemente visitada pelos franceses para o escambo, principalmente do pau-brasil, o que me chamou muito a atenção. Segundo o escritor e acadêmico Coriolano de Medeiros, a região era conhecida como “Porto dos Franceses”
Duas semanas atrás, fui convidado para um aniversário surpresa de minha tia-avó Lourdinha (Maria de Lourdes Oliveira) que foi justamente na casa de praia da prima Cláudia em Pitimbu. A reunião foi de primeira qualidade, uniu parentes de Natal-RN, Recife-PE, Campina Grande e João Pessoa-PB. A surpresa foi muito grande, minha tia Lourdinha com sessenta e alguns anos, achava que não era mais possível essa integração; a reunião de tanta gente da família para um momento como esse. Ela e sua irmã (Tia Nevinha, in memoriam), por muitos anos foram timoneiras no quesito reuniões familiares. Quer seja em Recife (onde moravam), em Campina Grande, e mais precisamente no Sítio Tambor, entre o distrito de Campina São José da Mata e o município de Puxinanã. A velha Mumbuca ancestral que todos nós reverenciamos sempre! Reduto de nossos ancestrais. Para tanto um salve ou viva a Vô Zé Severino de Oliveira, viva seus irmãos Rosa, Augusto, Miguelzinho, Regina, Tia Maria e todos os outros, viva a saudosa Charanga dos Batistas, viva Tia Judite! Salve, salve quem tudo nos ensinou. Meu respeito aos meus queridos e amados, que saudade.
Pois bem, a prima Cláudia teve a ideia de reunir parte da família para a comemoração natalícia de nossa tia e o sábado foi irradiante de sorrisos e muita emoção. Pedrinho, irmão mais novo de Lourdinha, levou o som e o violão onde embalou a jovem guarda e toda a memória da família. Levou Vavá, outro músico da antiga banda “The Seven Boys” que fez sucesso em Recife entre os anos 1960 e 1970 (Para não olvidar, Pedrinho foi convidado para tocar na banda Trepidants e ninguém toca ‘Muito Estranho’ como Vavá). Já o primo Gilson, filho do primogênito Zezé (irmão de Lourdinha), que hoje põe som e iluminação em grandes shows em Natal, inclusive nas apresentações de Roberto Carlos, etc. também levou seu karaokê para o divertimento dos familiares e foi um verdadeiro sucesso. Descobrimos ali cantores e cantoras com bastante potencial.
A sinergia foi sensacional. A lembrança de quem se foi marcou bastante. Nezinho (relojoeiro histórico em Campina), Joãozinho, Nevinha, marcaram sensivelmente o momento. Isso por causa da união em que nossa família é privilegiada. Espetáculo foi ver a mais jovenzinha, minha sobrinha Maria Júlia, a Majú, no alto de seus oito meses vividos, dançando com cada música, graciosa para o sorriso de todos. Coisa linda!
Andar por Pitimbú foi uma experiência interessante. Suas ruas centrais são sinuosas como serpentes, onde bailamos para todos os lugares. As residências modestas, à semelhança de uma vila de pescadores, têm gradeados horizontais. Com as barreiras por trás, poucas delas ocupadas, há uma semelhança com algumas cidades da zona canavieira do vizinho estado de Pernambuco. Engraçado que ao chegarmos nos portais de Pitimbú, a maior construção no ambiente foi de uma grande usina. Os morros ocupados (e não malvestidos como canta Nelson Gonçalves), falésias, tem seus inúmeros degraus, caminhos por onde a população sobe e desce vivendo sua rotina. Essas escadas rasgam o tecido urbano, sendo vistas a partir da praça central e ao longo da caminhada.
Ficamos muito bem hospedados na pousada Vithorya. Amorim e sua esposa são os timoneiros deste empreendimento bem próximo à praça central. Ele começou a narrar histórias do lugar e eu me interessei bastante. Conversamos muito sobre a ancestralidade das terras. A Vila de Taquara foi bem valorizada em sua conversa e várias praias nos limites da cidade. Segundo Amorim, na época da escravidão houve a queima de uma pessoa no adro da igreja Matriz. Me prometeu saber mais para me dizer.
Pitimbú das praias Bela, Acaú, Azul, dos Mariscos, da Guarita, do Pontal, de Coqueiros, do Graú e do Abiaí. Pitimbú de Taquara, dos Tabajaras, dos Franceses, dos pescadores, de um povo acolhedor e de belezas naturais ímpares. Não haveria melhor lugar para uma comemoração de aniversário do que este. Viva os Oliveira, viva a Parahyba, viva Pitimbú.
Thomas Bruno Oliveira
Historiador e Jornalista - 3372-PB
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