Viajar e hospedar-se em trailers, campers, motorhomes e, até mesmo barracas – prática chamada de campismo -, é uma atividade em voga no Brasil. O campismo possibilita que mais pessoas usufruam das vantagens do turismo, contribuindo para o bem estar e para a saúde emocional e mental do indivíduo.
Zarpar em um veículo de recreação é sinônimo de liberdade. Pode-se partir para aonde quiser, sem pressas ou reservas. Dá para viajar no último minuto com o conforto de casa. Permite aventurar-se em recantos naturais, longe do turismo de massa ou ir para cidades menores e encantadoras, onde, muitas vezes, a oferta de alojamento é precária.
São inúmeras as vantagens dos veículos de recreação. Destaco algumas: não estar sujeito a itinerários; não precisar carregar, desarrumar e arrumar as malas; não haver necessidades de reservas; estar livre dos horários de entrada e saída dos hotéis; poder compartilhar com a família e amigos maravilhosas paisagens; permanecer onde quiser, sem alterar reservas; levar seus materiais esportivos como bicicletas, moto, arco e flecha, infláveis e outros; gozar de mais privacidade; fazer, querendo, sua própria comida enquanto viaja; dormir junto à natureza onde não há infraestrutura hoteleira; economizar dinheiro para gastar em lazer e alimentação etc.
A origem remota do campismo está nas expedições militares. As tropas se abrigavam em tendas nos acampamentos. O campismo foi introduzido no Brasil em 1910, pela Marinha, através do escotismo.
Os americanos chamam de “veículo de recreação” (RV - “recreational vehicle“) os trailers, campers e motorhomes. Na Argentina trailers são chamados de casas rodantes. No Brasil o motorhome é classificado pelo Contran como motorcasa.
Os órgãos públicos de países desenvolvidos dão apoio ao caravanismo. Na Europa costumam abrir e manter áreas de serviços, gratuitas ou não. Essas áreas permitem ao campista pernoitar, abastecer seu veículo de água potável, descarregar águas servidas e usar outros serviços.
Para saber aonde acampar basta baixar APPs no celular, como “Vida Sobre Rodas”, “Macamp”. “iOverlander” , para citar algumas. Essas APPs descrevem, avaliam e dão as coordenadas dos campings e de pontos de apoio. Os proprietários de veículos de recreação, quando em deslocamento, costumam usar, de forma gratuita, postos de combustíveis, ao longo da estrada, para pernoitarem. Grandes postos disponibilizam água, pontos de energia, segurança e possuem infraestrutura, como restaurantes, lojas, oficinas mecânicas e outros serviços.
Não há, todavia, uma cultura do campismo no Nordeste, embora essa região, pelas suas belezas naturais e bom clima, seja a mais adequada para essa atividade. Em João Pessoa, por exemplo, há carências de campings e de pontos de apoio para a prática do campismo.
Dizem que até a beleza quando não muda enjoa. Os proprietários de veículos de recreação têm essa vantagem: não estão presos a um só lugar, a um ponto estático. Podem usufruir de locais variados. Visitar montanhas, campos, rios, lagos, cavernas, tomar banhos de cachoeira, de mar, curtir praias selvagens, respirar ar puro, desfrutar de paisagens exuberantes. Se algum vizinho o incomodar, com som alto ou outra perturbação, basta girar a chave, ligar o motor e se afastar.
Como disse o escritor angolano Mia Couto, “a fadiga que sentimos não é tanto do trabalho acumulado, mas de um quotidiano feito de rotina e de vazio. O que mais cansa não é trabalhar muito. O que mais cansa é viver pouco. O que realmente cansa é viver sem sonhos”.
Defino o campismo como vida simples em contato com a natureza. De fato, o campista é, antes de tudo, um ser bucólico. “A contemplação da natureza propicia-nos um gosto antecipado da graça celeste, uma alegria constante para a alma e o princípio de sua completa renovação. Nela reside o ponto mais alto da felicidade humana”, dizia o naturalista sueco Car Von Linné ( 1707/1775 ). Abílio Diniz comunga da ideia de Linné: “quanto maior o contato com a natureza, mais felizes, inteligentes e saudáveis serão as pessoas”, disse.
Viajar enriquece a alma, abre a mente e faz bem ao coração, diz o jargão. Sempre sonhei possuir um veleiro oceânico para conhecer outras plagas, povos e culturas. Mas, por ser caro, esse sonho tornou-se impossível. Um motorhome, no entanto, tem a mesma configuração interna de um veleiro, a um preço acessível, com a vantagem de poder deslocar-se por praias e também pelo interior.
Como lembrou Arthur Ransome, “as casas são tão solidamente plantadas no chão que nem sequer se pode pensar em movê-las. Não há dúvidas que são coisas inferiores, que pertencem mais ao reino vegetal do que ao animal, enraizada e estáticas, impassíveis de transição. A decisão de construir uma casa vem daquele desejo mórbido de uma pessoa que se contenta em ter, a partir daí, um só ancoradouro, um só lugar. A decisão de ter um veículo de recreação, porém, vem daquele desejo de juventude que se recusa de aceitar a ideia de um lugar de repouso final”.
Valério Bronzeado
Jornalista - Febtur - Paraíba
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