João Pessoa é uma cidade onde o Centro Histórico nasceu no interior e não na orla marítima, como sói acontecer. A Filipéia de Nossa Senhora das Neves, como era chamada, nasceu, por razões de segurança, às margens do Rio Sanhauá, longe do mar. O ponto de desembarque das caravelas dos colonizadores se deu no Porto do Capim, situado a 8,5 quilômetros do Atlântico. Durante séculos os moradores da capital paraibana viveram no entorno do Centro Historico. Somente descobriram as doçuras das praias a partir da década de 60. O Centro Histórico sempre gozou de efervescência, com intenso comércio e a presença de órgãos da administração pública e entidades privadas até que, a partir da década de 70, a situação mudou.
O declínio do Centro Histórico de João Pessoa – a terceira cidade mais antiga do Brasil – foi devido ao forte atrativo exercido pela orla marítima. Pouco a pouco as pessoas foram migrando para áreas litorâneas. Os órgãos da administração pública, como a própria Prefeitura, os Correios, cinemas etc saíram do centro da cidade. Shoppings centers e lojas de grande porte surgiram na orla, reforçando essa tendência. A BR 230 vive engarrafada e se transformou na principal avenida da cidade, onde estão concentrados grandes estabelecimentos comerciais.
Entretanto, há um fator esquecido, porém, decisivo para o declínio do Centro Histórico: o desaparecimento do Porto do Capim, local, digamos, do marco zero, por onde chegavam suprimentos e mercadorias e era exportado o nosso cobiçado açúcar. Sem a orla do Porto do Capim - um recanto bucólico e estupendo - o Centro Histórico perdeu seu grande atrativo. Ficou mutilado, desfigurado.
A Prefeitura de João Pessoa tentou restaurar a orla do Porto do Capim.O projeto previa a criação do Parque Sanhauá. Porém, moradores que invadiram e desfiguraram esse relevante sítio histórico, com a chancela do Ministério Público Federal, impugnaram projeto, prevalecendo, até aqui, o interesse da minoria sobre o da maioria. Conforme a decisão judicial, a Prefeitura de João Pessoa está impedida, provisoriamente, de realizar quaisquer obra ou intervenção no local. Esse impasse precisa ser, com urgência, resolvido.
A orla do Porto do Capim é um ponto histórico e turístico relevante não só para a Paraíba, mas para a nacionalidade brasileira. O seu resgate seria também o resgate da identidade histórico-cultural do povo paraibano. Poderia ser um local propício para caminhadas, para lazer, contemplação da paisagem, do por do sol, para práticas esportivas, sobretudo, náuticas e ser uma área especial, de grande interesse para visitação, contribuindo, decisivamente, para o renascimento do Centro Histórico. A exemplo do Porto Madero, em Buenos Aires, onde funcionam bares e restaurantes, poderia haver um navio icônico, fora de uso, atracado para servir de museu temático.
Dificilmente o Centro Histórico de João Pessoa escapará do declínio sem que a orla do Porto do Capim seja reconstruída e revitalizada. Ela se transformaria numa nova Praia do Jacaré, repleta de visitantes.
Antevejo o Centro Histórico da Capital paraibana como um parque temático destinado ao turismo recreativo, histórico e cultural. Um bonde, como nos velhos tempos, em linha circular, poderia sair da Lagoa, atravessar as riquezas arquitetônicas do Centro Histórico e seguir até a orla do Porto do Capim.
Recentemente o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal uniram-se em defesa do Centro Histórico. Foi aprovada injeção de recursos na ordem de R$250 milhões, a isenção de impostos na área, projetos para moradias, além de outras medidas.
Surgiu, em boa hora, o “Comitê de Fomento e Desenvolvimento do Centro Histórico de João Pessoa”, com a participação de cidadãos dispostos a defendê-lo.
O ChatGPT lista benefícios relevantes na preservação de centros históricos: “1) Conservação da Identidade Cultural: O centro histórico reflete a história e a cultura de uma comunidade, preservando tradições, arquitetura e modos de vida que são parte integrante da identidade local; 2) Atrativo Turístico: Muitos centros históricos são destinos turísticos importantes, gerando receita e promovendo a cidade ou região como um local único e interessante para visitação; 3) Desenvolvimento Sustentável: A revitalização do centro histórico pode contribuir para o desenvolvimento econômico local, impulsionando comércios, serviços e a qualidade de vida da comunidade; 4) Memória Coletiva: Ao preservar edificações antigas e monumentos, preservamos a memória coletiva da sociedade, permitindo que as gerações futuras compreendam e apreciem a evolução e os marcos da comunidade; 5) Fomento à Comunidade Local: A manutenção do centro histórico muitas vezes envolve a participação ativa da comunidade, promovendo um senso de pertencimento e colaboração entre os residentes; 6) Cuidado com o Meio Ambiente: A preservação do centro histórico frequentemente inclui a restauração de estruturas existentes, o que pode ser mais sustentável do que construir novos edifícios, reduzindo assim o impacto ambiental”.
Sem, entretanto, restaurar e requalificar a orla do Porto do Capim quaisquer medidas serão insuficientes para fazer renascer o Centro Histórico da Capital paraibana.
Valério Bronzeado
Jornalista - Febtur - Paraíba
Comments